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terça-feira, 23 de abril de 2013

páginas soltas ---

Sem divisões de capítulos, Vermelho amargo tem como única marcação a diminuição do número de integrantes da família, em uma contagem regressiva. Começa com oito pessoas e termina com duas – deslocadas na distância, pois o narrador já tinha deixado a casa paterna para poder olhá-la através da névoa da memória.

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O que me faz ver essa história também como um livro de poesia, com uma linha narrativa mas todos os microcapítulos do romance podem ser separados no todo, pois há uma mundo de significação próprio deles e há um aquela significação que dentro do contexto se transforma como o tomate que é hora visto com carinho, outras como elemento de segregação, em um momento é somente o sabor que importa, em outros representa o próprio estado do narrador para com o mundo.

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Essa linguagem avessa ao realismo e aberta a construções requintadas se fez a marca do autor. Ele não quer descrever com minúcias os fatos vividos no passado, mas encontrar o seu centro simbólico e construir percepções de linguagem. Antes de tudo, são as palavras em estado de proliferação poética que conduzem o texto – palavras com alta voltagem lírica, concentradas em frases perfeitas (verdadeiros aforismos) e em parágrafos curtos que funcionam como capítulos. Os seus livros devem, por isso, ser lidos com paradas reflexivas a cada ponto final.

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Sinestesia é a figura de linguagem que engloba a expressão Vermelho amargo, uma combinação poderosa das sensações provocadas por diferentes órgãos sensoriais: vista e palato.

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Natureza morta com tomates, 2008
Deb Kirkeeide (EUA, contemporânea)
óleo sobre tela, 15 x 20cm

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O ponto de partida é a perda da mãe. E as meditações, centradas na imagem de um tomate, são seu testemunho sobre as mudanças na família a partir daquele momento. Como o título prenuncia, é amarga a descoberta da vida após a perda materna.

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É relato repleto de poesia, conversa de gente grande, obra que nos enche de contraditórios sentimentos. Atravessá-la é tomar ciência da dor que existir forçosamente recomenda. Afinal, é preciso "experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor"...

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É assim que o livro começa. E é sabendo desse amargor que vamos acompanhando cada parágrafo, vendo a figura de um menino se desenhando ao nosso lado. Um menino de olhos tristes e corpo cansado falando sobre a dor de existir e sobre as suas perdas. Em uma luta constante pela sobrevivência.

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