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quinta-feira, 25 de julho de 2013

CRÍTICA - Subjetividade com recortes oníricos


Subjetividade com recortes oníricos

O romance de Bartolomeu Campos de Queirós, que deu título e originou a montagem em cartaz na Sala Multiuso, é traçado em imagens afetivas com sabor de colorido simbólico e fatiada em cortes oníricos afiados. O percurso das palavras do autor para reaver sentimentos, como o de perda da infância, o desaparecimento da mãe, o esfacelamento dos laços fraternais e a distância paterna, é temperado pelo fruto sangrento da solidão e da passagem do tempo. Nesta imersão em lembranças e subjetividades ressalta o lirismo levemente ácido de uma literatura confessional que Diogo Liberano adaptou e dirigiu, capturando o aspecto imagístico da literatura para estabelecer a conexão narrativa. A versão teatral do romance procura criar uma poética cênica, em que o literário se inflexiona como figura, deixando o dramático em segundo plano, em favor da construção da palavra desenhada. O trio de atores – Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho e Diogo Liberano – estabelece diálogo com a interpretação como traço, esboço para dar forma ao dito, sem emprestar-lhe intencionalidades explícitas. O que se apropria da escrita é o seu contorno físico, próximo ao sensorial, convertida em forma e movimento que desloca o eixo da ação interior para desdobrar, em abstrato, as camadas narrativas. Neste sentido, a cenografia de Bia Junqueira funciona como uma coautoria com a direção. O piso vermelho, que de início recobre a cena, se revela uma mandala de círculos concêntricos, que se transforma em parangolé. Outra camada do piso fica a descoberto, em seguida, quando se avolumam arestas para que, ao final, surja um quadro ilusório. Mais do que um impactante efeito estético, uma inteligente leitura visual do texto. 

Por Macksen Luiz
 

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