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quinta-feira, 25 de julho de 2013

CRÍTICA - Panorama afetivo distante da linearidade

 
Davi de Carvalho e Daniel Carvalho Faria em Vermelho Amargo (Foto: Anna Clara Carvalho) 

Bartolomeu Campos de Queirós não é biografado na dramaturgia de Vermelho Amargo, que, liberta de uma concepção convencional pautada pelo encadeamento linear dos fatos, evoca o doloroso confronto com as emoções infanto-juvenis atravessadas pela morte da mãe. O desafio da encenação de Diogo Liberano está em materializar no palco a carga poética do escritor mineiro.

Como atores, Davi de Carvalho e o próprio Liberano procuram dimensionar o modo como Queirós se apropriou dos acontecimentos no momento em que os estava experimentando, instância entrelaçada com a de Daniel Carvalho Faria, que se refere às vivências já administradas devido ao distanciamento temporal. A determinação em fazer jus à intensidade das experiências levou ao investimento numa cena algo expansiva, excessiva, perceptível na movimentação dos dois primeiros atores e na quase onipresença da trilha sonora de Felipe Storino que potencializa o universo do escritor para além da mera esfera cotidiana.

O mundo de Bartolomeu Campos de Queirós não é transportado de forma óbvia, literal. Bia Junqueira projetou uma superfície que, desvelada no decorrer da encenação, revela um material que remete ao caráter lúdico da infância, perspectiva tensionada na escrita do autor, de travo amargo. A instigante criação cenográfica pode suscitar no público um desejo de proximidade maior em relação à cena, por mais que o espetáculo esteja sendo apresentado em espaços intimistas (a Sala Multiuso do Espaço Sesc e, em breve, o Teatro Eva Herz) e que as marcações privilegiem a disposição frontal. A iluminação de Daniela Sanchez inunda o palco com a passionalidade do vermelho sem perder de vista a individualização de cada ator. Os figurinos de Julia Marini oscilam entre certa abstração (roupas feitas de retalhos de panos) e a concretude (traje próximo do dia a dia), demarcando os patamares distintos nos quais se encontram os atores.

Apesar de reunidos no mesmo plano, Davi de Carvalho e Diogo Liberano não seguem exatamente um registro interpretativo equivalente. Enquanto o primeiro imprime um acento poético, o segundo atrita, de maneira interessante, com a refinada construção literária da obra ao optar por um tom informal. Em nível discreto, Daniel Carvalho Faria contrasta com a agitação física dos outros atores e aborda o texto por via mais serena.

Por Daniel Schenker

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