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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Divagações sobre o VERDE, VERMELHO e AMARGO


Especulações levadas no nosso ultimo ensaio.

A partir do recorte do espaço, temos um tabuleiro onde os atores jogam o romance. Preferi chamar de um quadro, uma tela, onde se começa a traçar, riscar, pintar com os corpos e palavras o que Bartolomeu escreveu em seu livro. Voltamos à Pollock.  Assim, o espaço da cena, vira espaço onde se explode esse romance, não o ficcionalizando, mas usando o mesmo como dispositivo para os atores o expressarem de outras formas. Assim, a tela no chão, torna-se um espaço de experiência, onde o ator é capaz de, à principio, finalizar seu afeto  a cada tentativa. É uma questão de escolha clara. Existe um distanciamento dessa história, e ao mesmo tempo uma tentativa de torna-la expressa de alguma forma. Porém, a ideia é que, em nossa dramaturgia_ a da encenação, ou seja, em nossa escrita cênica_ essa possibilidade de distanciamento, de anular e recomeçar o jogo, a experiência, vá se tornando cada vez mais impossível, traçando uma progressão onde as palavras do Bartolomeu, expostas pelos próprios atores, os afetem num nível em que não seja mais possível sair dessa tela, já tão riscada. Na verdade, quando as palavras e o corpos já riscaram tanto o espaço, o risco começa a acontecer nos próprios corpos, e ai, fica mais difícil findar o jogo.
Para iniciar essa escrita, o VERDE, nosso primeiro movimento, surge como um primeiro contato dos atores com essa história. Os atores, que decidiram experienciar o romance, entram e saem desse espaço de forma livre e sem problemas. A expressão do VERDE, parece-me, a mais distanciada de todas. Assim, o corpo rabisca só com gestos (não ação).  Enquanto um narra, o outro “sofre” a palavra (expressa com o corpo). Não há afeto. E sim, expressão. É um movimento para o fora. Eles ainda não se tocam, pois não há necessidade. Assim, como o quadro referência desse 1° movimento (High Society In Top Hats Relaxing, Malevich ) , é um movimento que desenha no espaço, esboça com traços leves aquela história, mas não se aprofunda. É um movimento chapado e leve.
Ao chegar ao VERMELHO, as palavras do romance começam a tomar outra proporção, e assim, começam a penetrar mais nos próprios corpos dos atores, que por vezes, tocam-se para manterem-se firmes no jogo. Como o quadro do Miró, o corpo e a fala se duplicam, triplicam, e tomam todo o espaço. Com pequenos pontos mais concentrados de cor. Os acontecimentos se ligam, criando caminhos e sequencias. Há, na medida em que a narrativa vai saindo de uma apresentação mais distanciada, a presença de corpos e discursos mais afetados. E os corpos começam a ser mais “violentos” no seu rabisco no espaço, ainda que de forma sutil.
O quadro do Mondrian, nos traz uma concentração de cor em cada quadrado. Assim, as cores mergulham para dentro delas mesmas, sem fuga. Para fugir, é preciso romper as arestas que a prende ali. O AMARGO seria então, essa concentração de tudo que se foi, onde há dificuldade de romper essas arestas. E, ao mesmo tempo, há necessidade de que isso aconteça, para que os atores “sobrevivam” à narrativa. Assim, nessa tentativa, o rabisco no espaço, que lá no VERDE começa tímido, somente com gestos, já é um enovelar entre corpos e falas. As falas são roubadas e os corpos vivenciam novamente o que já se foi e se dão colo.  “Respiram” ali dentro mesmo, já sem conseguir se distanciar do quadrado _ tela, quadro, história _, tomado pelos rabiscos dos corpos, que fazem os atores estarem ali mergulhados a todo instante.  

Logo:
Verde
Um narra enquanto o outro expressa com o corpo ( e vice versa)
Só se utiliza gestos
Não há contato
Saídas inúmeras do quadrado
A ação do outro pouco afeta

Vermelho
Duplicação de narrativas
Duplicação de expressão com o corpo
Presença do Toque (contato)
Utilização de gestos+ ação
Manifestação sucinta de uma pequena dificuldade de findar o jogo ( sair do quadrado)
A ação do outro afeta, mas ainda consegue-se  não ser tomado.

Amargo
Contato constante tornam-se quase enovelados
Gestos + ação que não se findam
Dar colo ao outro                           
Impossibilidade de sair do quadrado.
A ação do outro interfere e modifica o lugar.
Pequenos blocos de concentração.

Enfim,

Especulações levadas no nosso ultimo ensaio.

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