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quinta-feira, 21 de março de 2013

penumbra ---

é uma área cinzenta, essa da lembrança. quando penso em memória, penso em penumbra. espaço das indefinições, espaço das deformações, do vir-a-ser. não há clareza quiçá certeza: o que existe é apenas possibilidade. eu penso que este espetáculo só pode acontecer num espaço capaz de ser lá e ser cá, ao mesmo tempo. de ser agora e de ser ontem, de ser mesa e forma sem nome. ao mesmo tempo.

é na penumbra que o espaço se revela e se dissipa. nada dura muito firme se envolvido em escuridão luminosa. em dúvida. lembro sempre de bartô nos escrever eu suspeitava. num dado momento, ele se explica: suspeitar é não ter certeza. algo assim. pois como ter certeza da memória, da lembrança, experiências que modificam o lembrado a todo o instante. com que tinta se pinta aquilo que se lembra, de forma a conservar suas características?

não há possibilidade de apreensão. a lembrança é movediça e da mesma forma como vem, ela some.

assim, este espaço cênico - essa dramaturgia espacial - precisa ser como um quadro em branco para todo e qualquer desastre. como eu costumo dizer, escrever, uma página em branco para o que vier. sem muita forçação.

aqui escrevo especulações. apenas e sempre tentativas.

sobre o tempo
para tanto tenho pesquisado sobre o tempo. sobre a memória. sobre o presente. o presente como único espaço temporal no qual o passado é evocado e o futuro estruturado. não há outro tempo que não este, o agora. dessa forma, trazemos para a encenação uma presença performática. um inevitável diálogo reto - e claro - com o momento da encenação. não se lembra em representação, se lembra apenas quando em presença.

sobre o espaço
impossível desatar-se do chão que se pisa. e, no entanto, o chão que pisaremos é chão de madeira corrida, limpa, clara, pouco maculada. veja: não é chão de casa da infância, não é chão de nada. é chão prenhe de símbolo, é chão ansioso por ser metáfora, para significar os chãos do mundo (todos os chãos que todas as peças de teatro precisarem, neste chão de madeira é possível encontrar).

sendo assim, não me interesso por nada exceto pelo chão tal qual ele se mostra. mas não o quero para simbolizar, para significar aquilo que não tenho. não quero que ele diga nada exceto a própria presença. é aquele chão parte do mundo (mas é também sala de espetáculo). é chão metonímia, um pouco dele diz o mundo, ao mesmo tempo em que ele escorre sendo mundo também (afinal, o é).


estas questões tempo-espaciais são as mais determinantes. a partir delas, teremos condição de escolher que tipo de narrativa a nossa cena deseja evocar. pois então, é seguir.

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